quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A metamorfose ou os insetos interiores ou o processo


Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos. Alguns rastejam, outros poucos correm, a maioria prefere não se mexer. Grandes e pequenos, redondos e triangulares de qualquer forma são todos quadrados. Ovários, oriundos de variadas raízes, radicais ramificações da célula rainha, desprovidos de asas não voam, nem nadam. Possuem vida, mas não sabem. Duvidam do corpo, queimam seus filmes e suas floras, para eles tudo é capaz de ser impossível. Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência, regurgitam assuntos e sintomas, avoam e bebericam sobre as fezes. Descansam sobre a carniça, repousam-se no lodo, lactobacilos vomitados sonhando espermatozóide, que não são. Assim são, os insetos interiores.

A futilidade encarrega-se de maestra-los, são inóspitos, nocivos, poluentes. Abusam da própria miséria intelectual, das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia; O veneno se refugia no espelho do armário, antes do sono, o beijo de boa noite, antes da insônia a benção. Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa: a família. São soníferos, chagas sem cura, não reproduzem; São inférteis, infiéis, invertebrados. Arrancam as cabeças de suas fêmeas, corram os troncos, urinam nos rios e na soma dos desagravos, greves e desapegos; Esquecem-se de si, pontuam-se.
A cria que se crie, a dona que se dane, os insetos interiores proliferam-se assim, na morte e na merda. Seus sintomas? Um calor gélido e ansiado na boca do estômago, uma sensação de "o que é mesmo que se passa?". Um certo estado de humilhação conformado parece bem vindo e quisto; É mais fácil aturar a tristeza generalizada, que romper com as correntes de preguiça e mal dizer. Silenciam-se no holocausto da subserviência, o organismo não se anima mais... e assim animais ou menos assim, descompromissados com o próprio rumo, desprovidos de carater e coragem, desatentos ao próprio tesouro, caem. Desacordam todos os dias, não insulam suas perdas e imposturas, não almejam, não alma, já não mais amor. Assim são os insetos interiores.
(Fernando Anitelli)

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