quarta-feira, 23 de março de 2011

A tal pizza



Chego cansada, entro no quarto e encontro uma réplica do estado em que se encontra a minha vida, uma bagunça. Aí desanimada eu tento encontrar o motivo de eu ter tantas pequenas e grandes coisas espalhadas e amontoadas, que vão acumulando e causando uma desmotivação cíclica. Euforia, desconsolo, euforia. Acabo de completar 23 anos e me sinto velha, e de fato sou. Velha pra todas as coisas que eu deveria ser ou ter com 23 anos e não tenho. Eu não sei falar inglês, não dirijo bem, vi poucos filmes e também não sei das coisas o quanto eu deveria saber, eu mantenho a superficialidade em todos os âmbitos, por que eu não tenho tempo de me aprofundar e descobrir o que eu realmente quero ser. Eu sei superficialmente um monte de coisas, como francês, espanhol e inglês, mas não sou profunda em nada. Só emocionalmente, o que é uma bela de uma merda. Falta espaço pra que eu descubra o que eu tento descobrir fazendo, mas a bagunça tá me espremendo e o caldo que sai não foi apurado, era o que tava ali por acaso. Outro dia me disseram que você deve se construir profissionalmente como uma pizza de vários sabores.Levei muito a sério esse papo de pizza. É quase uma paranóia, uma ditadura que diz: seja alguém, compre, seja linda e inteligente e no final das contas a única coisa que eu consigo ser é escrava disso. Eu preciso descobrir, até que ponto eu estou me subestimando ou sendo realista, olhar pro espelho livre de qualquer defesa e identificar o que se passa, pra que eu não consiga deixar passar nada, agarro desesperada pra mim, sem nem saber se eu quero. Eu quero ser tudo e no final sou só uma menina assustada da rua 17, que pára na portaria de todos os prédios durante o trajeto até o final da rua, tentando fugir de motoqueiros, que no final das contas tão só entregando pizza.